PROFESSORES

Camilo Mota

Professores não são apenas pessoas que se formaram em escolas e faculdades. Esse é apenas um efeito da legitimação dada pela sociedade organizada. Mais que isso, professor é força em movimento, energia que se exerce numa dupla relação: no encontro consigo mesmo enquanto sujeito em sua singularidade; no encontro com o grupo social que o legitimou, movendo assim outros modos de se relacionar com o mundo e com o si mesmo de cada um. Nesse sentido, pessoas podem ser professores, assim como os conhecemos em nosso senso comum. Mas também há professores de uma natureza mais incorporal, como as plantas de poder, os arquétipos, os sonhos, os animais.

Os professores são projeções do desejo humano em busca de conhecimento de si e do mundo. Somos nós, na construção de nossa subjetividade, que escolhemos (e também somos escolhidos por) aqueles que criarão as condições de mudança de nossas existências. Quero dizer com isso que o aluno é talvez ainda mais importante do que o professor. Mas como? É que o aprendiz precisa ser entendido em sua singularidade, em sua busca, para que consiga reconhecer as forças de criação que o habitam, e então fazer um bom uso da relação que estabeleceu com o seu orientador. É esse aprendiz que, em algum momento, também será o professor de alguém, aquele que, pelo conhecimento e exemplo, cria uma zona de influência que o legitima também a tornar-se outro.

Bons professores são aqueles que conseguem se tornar mestres de si mesmos, que alcançam o domínio não só do conhecimento dos homens, mas também que encontram dentro de si uma orientação que o ilumine, que o esclareça, que dê a ele a convicção de que está praticando uma boa escuta em sala de aula. Professor não é apenas o que fala, o que detém o saber, é também o que aprende a escutar, e a reconhecer as próprias limitações, porque também são legítimas e verdadeiras e precisam ser constantemente investigadas e trabalhadas. Todo bom professor é também um aprendiz. Está a todo momento criando novos professores para si mesmo.

Da mesma forma, é necessário conhecer de si no vasto campo da mente e das emoções. Ter entendimento da influência do medo, da raiva, da ansiedade em seus modos de agir. Corrigir-se a partir dos sinais que surgem no corpo. E assim desenvolver virtudes, qualidades que fortaleçam sua potência de vida, como a tolerância, a humildade, a paciência, o amor, a justiça. Mas não basta ser tolerante apenas uma vez. Não basta ser humilde apenas quando lhe convém. É preciso exercitar diariamente a arte da clareza. É o constante trabalho sobre as próprias virtudes que favorece a clareza interior para escolher os caminhos de aprendizagem e de ensino.

Neste 15 de outubro, dia do professor, penso o quanto é preciso tornar-se aprendiz na senda do conhecimento para se poder tornar mestre de si e dos outros. E também tornar-se aluno diariamente, para manter viva a chama da criança que um dia fomos e que se regozijava diante de um mundo sempre novo, sempre radiante, pleno de aprendizados.

Camilo Mota é psicanalista, professor, escritor. Instagram: @camilomota_psicanalista. Site: www.camilomota.com.br

Foto: Taylor Flowe