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  • Camilo Mota

UM MEDO FANTASMÁTICO



Camio Mota


“Como posso me proteger das energias negativas em minha vida?”. Esta é uma pergunta recorrente nos cursos de Reiki, e também surge em diversas situações clínicas, quando o analisando reconhece no outro uma fonte do mal, uma ameaça que lhe rouba a potência a partir de uma ordem mágica ou miraculante. Que ordem seria esta? Ela provém de um ato real, como um fenômeno tangível, ou está sendo despertada por um acesso do sujeito a imagens miraculadoras do medo que não são devidamente integradas em seu psiquismo? Em ambos os casos, há um modo reativo de lidar com o problema, ocorrendo um embaçamento das vias que estimulariam a potência de viver, rebaixando o sujeito a uma condição de passividade em contraponto à atividade. A passividade leva à reatividade, ao ressentimento, ao vitimismo, a uma postura de fuga. E muitas vezes a resposta é miracular uma resposta protetiva, rogando ajuda de instâncias também miraculantes, afastando o sujeito de sua responsabilidade no processo.


Energias negativas são modelos daquilo que ainda não conseguimos integrar ao Self. Quando acreditamos que estamos sendo afetados por atos mágicos, por castigos divinos, olho gordo ou inveja, retomamos um estado infantil de lidar com a realidade desconhecida. Todos carregamos, em nossos processos de subjetivação, imagens ou palavras que assumem a condição ameaçadora da sombra, daquilo que viria das trevas, do escuro da noite, do subsolo. O medo, essa emoção básica presente em todas as criaturas, ganha formas diversas no esquema das representações. Quando o tratamos com o devido respeito, entendemos de maneira mais clara que se trata de uma força, de uma vibração ou sinal de que é preciso estar alerta para fazer um bom uso de sua manifestação.


Quando propomos a um novo praticante de Reiki, ou de meditação, que se integre com a energia vital do universo, estamos indicando um caminho de integração do Self, no qual tudo faz parte de uma combinação de forças em atividade. O Self, aqui, é um centro que está em toda parte, não apenas um núcleo pessoal, mas um núcleo que se desloca entre outros centros. A atividade vital funciona, portanto, como um sol que é sua própria fonte de energia, e que espalha sua vibração, seus raios, para todo seu entorno. Estar ciente disso aumenta a condição de se perceber um ser em movimento entre campos de energia. Mas note bem: os raios de sol tocam todas as criaturas, alimentando-lhes de energia vital. Ele alcança pessoas, animais, plantas, vermes, vírus, toda sorte de espécie. No entanto, qualquer atividade vinda das criaturas não influencia o brilho do sol: ele continua em seu processo de duração, não é influenciado pela resposta que recebe daquilo em que toca.


Para encerrar, recorro ao Tetrafármaco proposto por Epicuro (271-270 a.C.). O remédio proposto pelo filósofo grego indica algumas das condições que fortalecem o reconhecimento do Self e sua integração com suas forças antagônicas. São quatro os princípios a serem seguidos: nada tema em relação aos deuses; não tema a morte; a felicidade é possível; podemos escapar à dor pela educação dos sentidos. Reflitam, pois. Há bastante força nessas proposições para alcançarmos uma condição mais ativa em relação à vida.


Camilo Mota é psicanalista, esquizoanalista, terapeuta holístico. Siga no Instagram: @camilomota_psicanalista. Mais textos no site: www.camilomota.com.br/blog


Foto: Syarafina Yusof

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